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A amizade é invisível aos olhos

Por Janaína Lourenço, para a coluna Rota de Fuga




Muitas vezes já ouvimos falar algo como "Eu conto nos dedos de uma mão os meus amigos de verdade." Estive pensando sobre isso, sobre o que realmente vem a ser a amizade para algumas pessoas.


Por que a pessoa considera que somente umas cinco outras pessoas, no mundo todo, seriam amigos de verdade? Será que é porque estão presentes no dia a dia, ou talvez porque numa situação difícil, financeira ou de doença, essa pessoa a socorreria, ou será que é porque ela sabe de segredos e sempre os guardou muito bem, pode ser também porque se conheçam desde a infância. Muitos podem ser os motivos de alguém considerar outra pessoa, dentre tantas que se conhece ao longo da vida, como AMIGA. Será que a amizade sempre tem a ver com troca, com oferecer algo, com reciprocidade? Será que só se pode elevar uma pessoa ao posto de AMIGA, se ela te der algo em troca, como atenção, amor, bebida, dinheiro emprestado, uma cama pra dormir num dia expulso de casa, cola naquela prova difícil, carro emprestado, etc.?


Agora pare para pensar um pouco, lá na sua infância, lembre-se de algum amigo (desses que se contam nos dedos) que não faz mais parte da sua vida nos dias de hoje (por qualquer motivo), pense e responda para você mesmo, só por não estar presente nos dias de hoje, ele perdeu o posto de AMIGO?

Será que porque a pessoa não troca mais nada com você, hoje, ela deixa de ser amiga?


Antoine de Saint-Exupéry, mais conhecido como autor de O Pequeno Príncipe, foi também autor de outros livros, e chamarei a atenção para dois deles aqui, um é o próprio O Pequeno Príncipe e o outro é Carta a um Refém, nos quais o autor pontua e enfatiza muito a amizade, só que uma em especial, a pelo "melhor amigo que tenho no mundo" (como ele definia), também escritor, Léon Werth.


Antoine já começa o livro O Pequeno Príncipe, pedindo desculpas às crianças pois o dedicaria ao seu amigo Léon, que era adulto, mas Antoine fez isso pelo pequeno Léon que um dia existiu, ao qual ele sequer conheceu, mas a delicadeza dele em perceber a criança do amigo e dedicar a obra a ele, é de admirar com olhos marejados.


Mas de chorar mesmo, é a amizade explícita e exposta em Carta a um Refém, que seria "apenas" um prefácio (aspado, pois nenhum prefácio escrito por Antoine de Saint-Exupéry seria um apenas), que inicialmente teria o nome de Carta a Léon Werth, para o livro 33 dias de autoria do seu amigo.

Nele, Antoine, durante a guerra, se apega a um momento agradável, um "instante perfeito" - como ele mesmo nomeia - que viveu com seu amigo (o qual era 28 anos mais velho que ele), num almoço, num dia ensolarado, às margens do rio.


"Saboreávamos uma espécie de estado perfeito em que, uma vez exauridos todos os desejos, não tínhamos mais nada a nos confiar. Nós nos sentíamos puros, corretos, luminosos e indulgentes."


Agora, voltando ao O Pequeno Príncipe, lembrando da conversa entre o pequeno príncipe e a raposa, na qual ela diz pra ele, antes de se despedirem, que o essencial é invisível aos olhos e que ele é eternamente responsável por aquilo que cativa - lembrando aqui, que a raposa pediu para o menino a cativar, pois ela queria ter laços, vínculos com ele, para que ele não fosse só mais um menino entre tantos, e para que quando olhasse para o trigo, não visse somente trigo, lembraria de seus cabelos dourados, e é exatamente aí que está o ESSENCIAL INVISÍVEL , e o autor retorna a isso em Cartas a um Refém, onde ele diz, que o essencial são as lembranças que ele tem para onde voltar, não que elas existam de verdade, mas elas são essenciais para ele.


Agora, caro leitor, lembre-se novamente daquele amigo de infância, ele realmente precisa estar no seu dia a dia para ser seu amigo?


Pra mim, a lição que fica lendo esses dois livros é que a amizade verdadeira, a que pode se contar nos dedos de uma, duas ou dez mãos, é aquela que você lembra e sorri, aquela que você se emociona retomando sentimentos, aquela que verdadeiramente te cativou, que te deu momentos felizes seja com um sorriso ou com grandes atitudes.


Dedico esse texto ao meu melhor amigo, Rones Farias Filho, por ser essencial em minha vida, ontem, hoje e eternamente. Não se esqueça, meu amigo "a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar." E ainda que não façamos mais parte do dia a dia um do outro,"A presença do amigo que aparentemente se afastou pode se tornar mais densa do que uma presença real."Antoine de Saint-Exupéry


Amo você!

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